Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/112

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vos affasteis para aqui!”—­Hypocritas são aquelles que mentem aos que os escutam; que simulam a paz do descrer tranquillo, quando vae lá dentro o tumultuar das incertezas. Como Satanaz elles dizem que o inferno é o ceu; dizem que a irreligiosidade tem o segredo do repouso e da ventura, quando o que ella dá é inquietação e desesperança.

Feliz a alma vulgar e rude que crê, e nem sequer sabe que a duvida existe no mundo! Está certa de que além da morte ha vida; conhece as suas condições; conhece-as como lh’as ensinaram, como conhece as condições dos corpos. Para ella as noites não tem os pesadellos monstruosos, nem os dias as meditações febris em que o sceptico involuntario se debate na orla do possivel, que toca por um lado nas solidões do nada, por outro na immensidade de Deus.

Mas ainda mais feliz a intelligencia superior ás do vulgo, aquella que a Providencia destinou á missão do poeta, nos annos da infancia e da juventude, antes que o arido bafo da sciencia a queimasse passando por cima della! Nesse espirito e nessa idade a religião não está só nos preceitos e nos dogmas; está na natureza inteira. A alegria de Deus, o aspirar das fragrancias celestes, a toada suavissima dos hymnos