Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/183

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uma boa nortada (são gostos), punha-me a descrever um destes formosos dias de dezembro ou de janeiro, em que o firmamento parece retincto de novo no seu tão lindo azul; em que a verdura infantil das searas á flor da terra sorri estirando-se dos topos arredondados dos outeiros pelo pendor de recostos levemente inclinados; em que a relva se mira á luz vermelha da aurora no espelho do caramelo, que envidraça a superficie dos pegos e remansos dos regatos. Falar-vos-hia de uma abençoada missa do gallo na aldeia em noite de luar, missa mil e quinhentas vezes mais poetica do que toda a poesia protestante desde Luthero, o pae do protestantismo, até Strauss, que hoje lhe tira as derradeiras consequencias; falar-vos-hia, emfim, de mil cousas, muito bonitas, muito viçosas, muito brilhantes, mas que viriam tanto a proposito de S. Pantaleão, como o anho paschal daquella sancta velha da tia Jeronyma viria a pello da Natividade com o seu caldo tradicional de perú, ou como o estylo do nosso drama moderno se casa com a linguagem da sociedade cujo transumpto deve ser. É por esta razão que em cousas serias, quaes a presente narrativa, eu sou muito pechoso em averiguar tudo quanto póde contribuir para a perfeição de obras em que a fórma de modo nenhum