antes de vós existirdes. Mas quem vos assegura que a pobre velha achará a passagem analoga á sua situação; que encontrará nas palavras do livro sacrosanto o conforto de que carece, e a esperança do soccorro immediato e sobre-humano de que não menos precisa? Quem vos assegura, emfim, que ella saberá ler? Ou é que no paiz dos quakers a inspiração tambem faz de mestre-eschola, como exercita o mister de mestre de theologia?
E depois, não sabeis que a dor moral do homem do povo tem gemidos e queixumes; é estrepitosa, delirante, sincera? que não se reporta, não se esconde, e vem ao gesto, aos meneios, aos olhos, á voz, como a dor physica! Julgae-la acaso semelhante ao spleen do dandy, ou ao devorar intimo e calado das almas, a quem a educação e a sciencia ensinaram a dignidade das grandes agonias? Estes taes, exteriormente tranquillos, podem encostar-se ao braço, fitar os olhos no livro aberto ante si, e aspirar naquellas paginas sublimes e profundas o halito consolador que dellas espira. Mas para o homem do povo, quasi primitivo, quasi selvagem, cujos olhos nadam em pranto, e que se estorce e brada flagellado pela afflicção, a biblia é nesses instantes inutil, porque é impossivel. Deixae-lhe a imagem do sancto, o