Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/217

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palavras de um escriptor moderno, [1] que, melhor talvez que ninguem, pintou o estado presente das ultimas classes em Inglaterra, e que em todos os factos que narra se funda ou nas proprias observações, ou nos documentos officiaes publicados pelo governo inglez. Perfeitamente imparcial a respeito da Gran-Bretanha, o seu testemunho é o que mais a proposito podemos neste ponto invocar.

“A seriedade e o silencio com que este licôr ardente (a genebra) é tragado, fazem arripiar. É como se o povo assistisse a um officio divino. Consummado o sacrificio, vão-se assentando no banco de madeira corrido em frente do balcão, e alli ficam quedos, mudos, como arrebatados em ineffavel extasi. Depois, passados alguns minutos, voltam ao balcão, tornam a beber, e repetem até se lhes acabar o dinheiro. Vae-se assim a ultima mealha. E têm animo de affrontarem o morrer de fome, elles e seus filhos, para se embriagarem. Provou-se pelos inqueritos feitos por causa da lei dos pobres, que as esmolas em dinheiro, dadas pelas parochias, íam cahir inteiras na taberna, e só aproveitavam ao taberneiro. A povoação infima da

  1. Buret, De la misère des classes laborieuses (1842), Liv. 2. cap. 4.