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Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/237

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dous mezes, não deixava de dôr d’ilharga para que lhe tornasse as suas vinte moedas, que lhe eram indispensaveis, dizia o matreiro saloio, para pagar uma divida contrahida com um usurario de Lisboa por causa do casamento do seu Manuel, que se víra obrigado a arrumar. E como Barnabé, que tambem era saloio e manhoso, lhe objectasse que só vendendo o casal dos Caniços lh’as poderia pagar de prompto, e que era uma de seiscentos achar comprador que désse o que elle valia, Bartholomeu, acceso em amor fraterno, lhe declarou que o maldicto usurario dera a entender, que, se elle Bartholomeu tivesse umas terras que lhe empenhasse, esperaria pelo dinheiro com quaesquer cinco por cento ao mez; que por isso, vendo-se naquelles apertos e afflicções, faria o sacrificio de lhe tomar o casal pelas vinte moedas e mais o que fosse justo, que iria pedir ao mesmo usurario; porque—­accrescentava elle, quasi chorando—­vão-se os anneis e fiquem os dedos. Que ficaria arrasado, e a bem dizer a pedir esmola; porque, como elle Barnabé lhe affirmava todas as vezes que lhe ía pedir o seu dinheiro, as excommungadas das terras apenas davam para o fabrico. Emfim, tão despejadas mentiras pregou ao irmão, tanto o atenazou, taes artes teve de lhe converter as sétas em grelhas,