Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/247

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e cambiantes, passim. Como os politicos, o moleiro podia dizer, pondo a mão no coração—­a minha consciencia—­a minha honra—­a opinião publica—­os meus serviços—­a nação—­a posteridade:—­e depois tossir e escarrar grosso, e seguir ávante sem se embaraçar com aquelle rosnatorio despeitoso e zangado; porque, como bem disse um poeta de philosophia ancha:


O premio da virtude é a virtude:
O castigo do vicio o proprio vicio.

E foi o que Bartholomeu fez: e com razão. Não eram os respeitos dos moços dos outros moleiros e dos lavradores seus freguezes, e os dos pobres que o avaliavam pelo secio dos trajos, a prova cabal e indestructivel da sua popularidade? Eram. Que caso devia, pois, fazer dos zums-zums de meia duzia de farrapilhas? Nenhum. Eu cá, pelo menos, sou de opinião que fez bem proseguindo no seu caminho, tranquillo com o testemunho de uma voz intima, que o certificava de que era um homem de importancia, e digno por todos os titulos de representar o papel de festeiro a que fôra chamado.

Mas a nobre altivez do moleiro, e a firmeza que mostrára