Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/259

Wikisource, a biblioteca livre

mezes de noivo era ainda um baboso por ella. No principio de julho ajustára contas com os freguezes da azenha, e recebêra algumas moedas: a festa da aldeia estava proxima: Bernardina morria por tafularia; o moço moleiro tambem não lhe era avesso. Tinham o vicio instinctivo da gente moça, vicio legitimo, se em vicios se póde dar legitimidade. Duas forças arrastavam, pois, o pobre Manuel da Ventosa: o amor, e a propria inclinação. D. Thomazia, irman do mestre eschola da aldeia (se Deus me der vida e saude, ainda talvez um dia conte a historia do digno professor) vivêra na côrte muitos annos com o sabio mano. Nisto de modas falava que nem um livro. Quando ía por acaso a Lisboa, nunca deixava de visitar duas ou tres modistas suas conhecidas, de maneira que, por assim dizer, andava sempre ao par da sciencia. Foi n’um aposento interior, no sancta sanctorum da residencia magistral, que se traçou, discutiu, e resolveu a conspiração, que devia baralhar os calculos de Bartholomeu sobre as maquias da azenha naquelle semestre. Seis moedas foram ali barbaramente espatifadas. Foi um orçamento perfeito: talhou-se por cima da risca do necessario, e gastou-se: gastou-se d’ahi a poucos dias até o ultimo real, já se sabe, com severissimas economias,