Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/266

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passar sem sedas! Não se lembra do tempo em que andava de sapatas atrás das vaccas da Josefa Enguia? Diga, senhora mosca morta?... Olha a sonsa, que parece não quebra um prato! Anda-se um homem a matar para lhes fazer casa, e vocemecês, senhores badamecos, a botar o suor da gente pela porta fóra. E eu sem saber nada d’isto! Com trezentas carradas de diabos! Pena tenho eu que essa mariolada os não pozesse n’um frangalho. Não têm vergonha de se fazerem alvo do povo, e de se arruinarem e arruinarem-me a mim, que toda a vida tenho labutado para viver com a minha cara descoberta?... Oh desalmado—­proseguiu depois de um instante de silencio—­que contas me has-de tu dar do dinheiro que extravaganciaste, e que é preciso para me acabar de desempenhar da compra da azenha?...”

Neste momento o discurso de Bartholomeu, que se ía encaminhando ao pathetico, foi interrompido por um rir esganiçado e tremulo, que lhe chiou ao pé dos ouvidos. Era o caso, que Perpetua Rosa o seguíra sem que elle reparasse em tal, e se pozera attentamente a escuta-lo. A ultima phrase que a boa da velha ouvíra tinha produzido nella tão subita alacridade.

“E ri-se você, sua atrevida?!”—­exclamou