Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/268

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para cinco ou seis velhas, que faziam roda e segredavam umas com outras.—­Saibam vocecês que o senhor Bertolameu da Ventosa recebeu mais de cinco centos de mil réizes de dote...”

“Eu deito-me a perder com este diabo!—­interrompeu o moleiro fazendo-se fulo, e soltando as mãos do braço de Bernardina e da gola do seu Manuel, para as lançar ao gasnate de Perpetua Rosa.—­Oh lingua perversa! Quaes quinhentos mil réizes?!...”

“Os que meu amo tinha ajunctado grão a grão, como se lá diz, á custa do suor do seu rosto, com muito gloria in incelsis muito bem cantado, e muito enterro feito, e muitas bátegas d’agua nos ossos, e muito sermão prégado, e muito arranjo e poupança desta sua criada, senhor Bertolameu. Senhor Bertolameu, tenha perposito! que quem não diz, não ouve; que lá resa o dictado: manha do açougue, e com villão villão e meio. Foram setenta caras; salvo seja! Vi-as contar com estes olhos, que ha-de comer a terra. E quem as arrecebeu? Nanja eu. Assim compra-se muita coisa, e arrotam-se postas de pescada. Diz bem, senhora Perpetua Rosa; diz bem! Quem perdeu perdeu; mas não queiram metter os dedos pelos olhos á gente. Nunca vi creatura assim: t’arrenego!”