Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/282

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uma gaiola de grilos cousa d’espavento, e uma abáda de castanhas do Maranhão e de figos passados, com que o bom do rapaz se regalou de pôr a bôca n’uma lastima. E o mais é que teve palavra. Apenas contou o caso a duas ou tres freguezas antigas de Lisboa, e á tia Jeronyma, com quem desde a mestra, podia-se dizer, era unha com carne. Aqui é que foram as ancias. Pelos domingos tiram-se os dias-sanctos. A ama do prior fez-se fula quando tal ouviu. A lanceta que sangrára a meia do forro da escada apparecia finalmente; e a tia Jeronyma, sem lhe importar o ver a mortificação da pobre Perpetua Rosa, desabafou á sua vontade; mas passado o primeiro estouro da dor, levou de seu brio nunca mais tornar a bulir nesta desagradavel materia.

Eis a verdade nua e crua de como se aventou o segredo. A alhada da porta da igreja, nascida daquellas tafularias tolas do Manuel da Ventosa e da sua companheira, acabou de divulgar o negocio, sem que n’isto andasse o fradinho de mão furada, nem os jesuitas, gente de poder mysterioso e terrivel, nem, finalmente, o judeu errante, que tantas maravilhas obra actualmente na terra. Mas se n’isto não entraram os irmãos do quinto voto, nem o caminheiro Ahasvero, com as suas sapatas tauxiadas