Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/310

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de John Bull os habitantes da Peninsula! Pensava assim, de certo; porque de quando em quando volvia para nós os olhos com aquelle sorriso de complacencia estupida, que é peculiar na cara de um inglez vaidoso e contente de si.

Um dos exemplos mais lamentaveis da cegueira do espirito humano é a persuasão em que os escriptores de Inglaterra estão de que possuem uma lingua litteraria falada; isto é, que os sons quasi inarticulados do seu chilrear e grunhir correspondem sufficientemente aos grupos de caractéres alphabeticos, de que elles se servem para representarem os proprios pensamentos. Todavia a lingua escripta de Inglaterra nada tem que ver com a linguagem em que a nação se exprime: são dous typos diversissimos, que dão fórma sensivel ao pensamento. Abri um livro escripto em qualquer outro idioma da Europa, e fazei ler por elle um estrangeiro completamente ignorante desse idioma: o natural do respectivo paiz, aquelle que o falou desde a infancia entenderá tudo ou quasi tudo, se escutar essa leitura. Fazei a mesma experiencia com um livro inglez: o natural de Inglaterra não entenderá provavelmente uma unica palavra. É que na realidade entre este povo, em tudo singular, os signaes