«Como é bello este silencio
«Da terra todo harmonia,
«Que aos céus a mente arrebata,
«Cheia de meiga poesia!»
Rio de Janeiro, 22 de outubro de 1848.
No céu recamado de luzes sem fim
Tenho uma luzinha, que um anjo me deu:
Librada no espaço, distante de mim,
Ha outra, que é delle, tam triste, como eu.
Nas horas mais tardas das noites d’estio,
Eu vi as luzinhas, ouvi-as fallar;
D’anil entre as aguas do patrio meu rio
Seu fogo mil vezes lhes vi retratar.
De noite, nas fragas lascadas dos mares,
Senti a tormenta na rocha bramir;
Fitei os meus olhos n’um céu de safiras
E a estrella eu vi delle p’ra mim a sorrir.
Seu fogo divino, que assim m’inspirava,
Por vezes brilhante nos céus fulgurou;
Mas nuvem maldita que os ares toldava
P’ra sempre a meus olhos seu fogo occultou.
Vaguei depois disso nos campos sósinho,
Nem mais vi a estrella que anjo me deu;
Sentei-me nas rochas, andei sobre mares
Fugiu-me dos olhos, perdida no céu.
Perdi nesta vida viver inspirado,
Findou-me de vate celeste condão,
O mundo bradou-me com bafo gellado
Na terra que habitas é tudo illusão.