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Página:Lisia poetica v3-4.djvu/250

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LISIA POETICA.

«Como é bello este silencio
   «Da terra todo harmonia,
«Que aos céus a mente arrebata,
   «Cheia de meiga poesia!»


Rio de Janeiro, 22 de outubro de 1848.

José da Silva Maia Ferreira.


DUAS ESTRELLAS.


No céu recamado de luzes sem fim
Tenho uma luzinha, que um anjo me deu:
Librada no espaço, distante de mim,
Ha outra, que é delle, tam triste, como eu.

Nas horas mais tardas das noites d’estio,
Eu vi as luzinhas, ouvi-as fallar;
D’anil entre as aguas do patrio meu rio
Seu fogo mil vezes lhes vi retratar.

De noite, nas fragas lascadas dos mares,
Senti a tormenta na rocha bramir;
Fitei os meus olhos n’um céu de safiras
E a estrella eu vi delle p’ra mim a sorrir.

Seu fogo divino, que assim m’inspirava,
Por vezes brilhante nos céus fulgurou;
Mas nuvem maldita que os ares toldava
P’ra sempre a meus olhos seu fogo occultou.

Vaguei depois disso nos campos sósinho,
Nem mais vi a estrella que anjo me deu;
Sentei-me nas rochas, andei sobre mares
Fugiu-me dos olhos, perdida no céu.

Perdi nesta vida viver inspirado,
Findou-me de vate celeste condão,
O mundo bradou-me com bafo gellado
Na terra que habitas é tudo illusão.


J. Aboim.