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Página:Livro de uma sogra.djvu/120

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Ela recorre às torturas do espartilho para fazer a cinta inverossimilmente fina, às torturas dos sapatinhos apertados para fazer o pé microscópico; recorre aos arrebiques, ao pó-de-arroz, às opiatas, ao dentista, ao cabeleireiro, à modista. De feia pode fazer de si uma dessas elegantes bonecas de salão, por quem às vezes os homens se enfeitiçam. Ele, por outro lado, trata logo de dar brilhantina e cosmético ao bigode, calça-se com esmero, e estuda os meios, não de conseguir a própria felicidade e a daquela que pretende para esposa, mas de tornar-se irresistível dançando a valsa; e põe monóculo, e faz versos, ou arranja quem lhos faça. E ambos, depois de bem enfrascados em perfume, depois de bem adornados e convertidos no que não são, esforçam-se, cada qual com mais empenho, em esconder aos olhos do outro os seus defeitozinhos e as suas pequenas misérias de entes civilizados.

Ela, coitada! para de si dar cópia de um ser poético e vaporoso, recita poesias sentimentais ao piano, fala de coisas românticas que pescou de orelha, levando a comédia ao ponto de não querer à mesa, se houver rapazes presentes, quase que tocar nos pratos; e suspira,