Página:Livro de uma sogra.djvu/265

Wikisource, a biblioteca livre

que recupere as graças primitivas, fica, nos intervalos de resfriado matrimônio, encostada a um canto, esquecida como uma máquina em descanso.

Palmira soltou um suspiro mais longo que o outro, e continuou a fixar o mesmo ponto, com os olhos imóveis.

Eu prossegui:

— E depois!... logo depois do parto?... Enquanto o filho, nos seus primeiros dias de vida, com o seu primeiro choro, vai roubando à mãe todos os carinhos sensuais do marido dela, o que é a mulher?... É uma pouca de carne dolorida e mole que ali está sobre a cama! E é preciso defumar o quarto, mudar constantemente as roupas sujas! Ela, coitada! num resguardo absoluto, sem se poder lavar completamente, nem pentear-se, nem desinfetar os cabelos e o corpo, só vive para a sua recente maternidade e para o gozo animal do seu estado de alívio, depois que despejou a carga que a oprimia por tantos meses e que lhe fazia sofrer dores físicas e sobressaltos morais. Dos beijos de compaixão e de reconhecimento que o esposo lhe dá durante esse período do cheiro de alfazema, nasce entre os dois