nunca beijo nenhum que ela meu deu foi inoportuno; nunca as suas carícias chegaram fora de propósito, e nunca deixaram de produzir em minha alma o mesmo delicioso efeito de suave refrigério. Entretanto, quantas vezes ainda na lua-de-mel, não me revoltei contra mim mesma e não amaldiçoei as rebeldias do meu coração, por não poder evitar que, a despeito da minha traiçoeira afabilidade extrema, o enjôo repelisse no meu íntimo as carícias que nessa ocasião me dava meu marido?!
Ah! ele não percebia a verdade, porque eu com uma hipocrisia, que nesse tempo acreditava honesta e generosa; uma hipocrisia, que eu supunha fazer parte dos meus deveres de boa esposa, obrigava meus olhos, meus lábios, meu braços, meu corpo inteiro, a mentirem, representando sem vontade essa coisa inconfessável, ignóbil, que me tinham feito acreditar, secretamente, que era "o amor". Que blasfêmia! e mais — que era "o matrimônio". Que desilusão!
Oh! quantos sorrisos, quantos suspiros de volúpia e quantos beijos dados por mentira, meu Deus! Oh! quanto me prostituí nos braços de meu marido!