Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/14

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edifícios e estabelecimentos, bastantes para certificar vinte e quatro anos de domínio fecundo de um grande povo, pouco eram em comparação às ruas sem conta, aos templos suntuosos, às habitações aristocráticas com que dos seus outeiros descia até os vales, por entre pomares e jardins esplêndidos, a Olinda dos poetas, que nascera de um conflito de prazer das vistas de Albuquerque com as risonhas perspectivas que de cima desses outeiros se descortinam, como nascera Vênus do ajuntamento do sangue do céu com as escumas do mar.

A preferência do governador feriu a nobreza nos seus foros anciãos, e a cidade na sua justa e legítima vaidade. Todavia os nobres teriam curtido em silêncio este dobrado desdouro, se em 18 de novembro, quarenta dias depois da chegada de Félix José Machado, não fossem escandalizados com a nova inauguração do pelourinho, causa primordial da guerra extinta. [1] Não podendo mais reter, em presença do novo desacato, os seus ressentimentos mal ocultos, os mais importantes membros da nobreza pernambucana procuraram o bispo D. Manuel Alves da Costa, de cujas mãos o governador recebera as rédeas do governo, para o consultarem sobre o procedimento que deviam ter.

O bispo, modelo de brandura cristã e de concórdia fraternal, tratou de amaciar os fidalgos melindres eriçados.

  1. Vid. o Matuto, segundo livro da Literatura do Norte.