Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/18

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a obrigação de algum negócio os não chamasse. Ia eu chegando às portas do palácio, quando saíam de dentro João da Mota e o padre João da Costa. Ao darem com as vistas em mim, risos escarninhos são os cumprimentos que tem um, olhares ameaçadores e desdenhosos são a cortesia que tem o outro. Diante dessas figuras ainda macilentas pela fome que com o cerco padeceram, todos os meus brios sentiram-se insultados. Pareceu-me que subir cabisbaixo as escadas por onde haviam descido triunfantes duas víboras peçonhentas não era ação que se compadecesse com o meu sangue e linhagem. Dei de rédeas ao cavalo e torci para trás. Não me hajais por arrebatado, senhores. Eu já trazia nesse momento todos os espíritos erguidos: pelas ruas da infame povoação encontrara magotes de reles mercadores com alegres ares, e palavras descompostas. Uns diziam versos em honra do seu triunfo; outros cantavam as trovas depravadas contra a nobreza, chocalhando da nossa derrota. Sabeis ao que ia essa desprezível gentalha? Ia levar os seus agradecimentos ao ouvidor e ao governador pelo restabelecimento do pelourinho.

— Coisas de imprudentes, disse o bispo. Ponhamos bem altos os nossos ouvidos para que não escutemos insultos e injúrias, e bem atentas as vistas no estudo da nossa posição. Senhores, não nos iludamos. O governador traz largos poderes, e empregará todos os meios para se fazer obedecer. Não é tão fácil como vos