Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/20

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inclinação das suas paixões para o novo conflito, que devia resolver-se em segunda guerra porventura mais encarniçada e mortífera que a primeira, pôde D. Manuel, graças ao prestígio que lhe ficara do governo, ao seu sagrado ministério, à sua piedade, ao seu esforço, dissuadir os nobres do grave pensamento que alimentavam. D. Manuel foi ainda além deste resultado.

— Sou de parecer, dissera ele por derradeiro, que cada um dos amigos presentes volte à sua casa a tratar dos seus interesses, sem outro ânimo em relação à administração pública senão o de obedecer às autoridades e ser fiel a el-rei que elas representam.

Estas palavras foram ouvidas por todos. Ate Cosme Bezerra e Falcão d'Eça dentro de vinte e quatro horas volviam a seus lares.

O bispo não se enganara nas conjeturas. De fato, Félix José Machado estava armado com todos os poderes para vencer o espírito da rebelião, fosse de que lado fosse. A corte de Lisboa não quisera desconsiderar inteiramente os pernambucanos, importantes pelas suas tradições, posição e fortuna; mas incumbira o governador de destruir tudo o que se parecesse com germens de resistência, de que pudesse proceder o pensamento de tornar independente o Brasil. Não era sem razão que se previa ali este caso: soubera-se em Portugal tudo o que em Olinda se passara em 1710, por ocasião de reunir-se a nobreza com o Senado da Câmara