Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/224

Wikisource, a biblioteca livre

— Sim, milagre foi; milagre do deus-açúcar, ou antes, do deus-dinheiro. Não me compreendes, prima? Não sabe que Cristovam de Holanda, nosso parente, preso pelo Bacalhau a dezoito caixas de açúcar, de que abriu mão a sua mulher, deve o ter voltado à sua liberdade? [1] Não sabe que o mesmo milagre se reproduziu com André de Abril de Souza, Antonio Cavalcanti Bezerra e outros? [2] É um deus todo poderoso o deus-açúcar: Félix José Machado rende-lhe o culto especial que não tem para o verdadeiro Deus - aquele que o há de punir pelos seus crimes. Ao deus-açúcar devo também a minha salvação.

Amador tinha entrado. No exterior dava logo a conhecer que ele se tratava à lei da nobreza. Um pouco empertigado, um pouco arrogante, olhando por cima do ombro, era o mesmo que dantes. A prisão não lhe abatera a vaidade. Solto, parecia mais orgulhoso do antes de ser preso,

Percorrendo as vistas por sobre os objetos que cercavam a cunhada, e somente descobrindo neles humildade e modéstia, não pôde fugir de observar, com acento de moralista:

— Mas, em que estado a venho encontrar, prima! A última vez que a vi foi ao lado do mano João. Tinha você todos os mimos da felicidade e da nobreza.

  1. Histórico.
  2. Histórico.