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— Esse não!

Cuida que a minha raiva brutal ficou satisfeita?

Entrei no baile aspirando no ar um faro de sangue. E verdade, tinha frenesi de matar essa mulher; porém matá-la devorando-lhe as carnes. sufocando-a nos meus braços, gozando-a uma ultima vez, doixando-a já cadáver e mutilada para que depois de mim ninguém mais a possuísse.

Ela lá estava sempre bela, sempre radiante. Júbilo satânico dava a essa estranha criatura ares fantásticos e sobrenaturais entre as roupas de negro fescarlate.

Junto dela descobri a Nina, que, apesar da sua graça, desaparecia completamente naquela zona que Lúcia deslumbrava com a sua reverberação. Mas eu que via com os olhos do despeito, percebi-a imediatamente.

Nina sabia das nossas relações f ignorava ainda o desenlace muito recente As minha. pretensões deviam pois ter para ela o encanto que acha toda a mulher em afligir outra que lhe é superior pela graça e formosura; assim explicam-se os avanços de amabilidade que me fez, à custa de algum crédulo e paciente admirador; deu-me uma entrevista em sua casa depois do baile.

Mas esse favor, discretamente concedido, não me servia; era preciso que mais alguém o soubesse.

— Então, uma hora depois do baile? disse eu alçando a voz.

— Sim; mas segredo! respondeu Nina levando o dedo à boca.

— Estará só? perguntei para mais fazer ainda ouvir a minha fala.