E essa pobre moça, a Nina, inocente da minha loucura, que talvez por meu respeito perdera o seu amante? Era a primeira vez, desde que a deixara, que me recordava dela. Devia-lhe uma desculpa; e como não tinha outra coisa que fazer, aproveitei esse pretexto para sair.
Pensava, chegando à casa de Nina, encontrar um rosto fechado, um momo despeitado, e um bom dia atirado da ponta de um beiço desdenhoso. Qual não foi portanto a minha surpresa vendo-a precipitar-se para mim, abraçar-me com ímpeto, e atirar-me de repente pela testa e pelo rosto uma chuva de carícias que me azoou.
Afinal consegui desprender-me dos braços que me enlaçavam; ia pedir uma explicação, quando Nina atalhou-me:
— Estou muito zangada com o senhor! disse com um ar que exprimia inteiramente o contrário. Fazer-me esperar até não sei que horas!
— Confesso que cometi uma falta; mas há de me desculpar.
— Ah! Cuida que a pulseira que me mandou paga o prazer de sua companhia! Enganou-se!. .
— A pulseira! balbuciei sem compreender.
— É linda que faz gosto. Não há segunda: a Lúcia não tem melhor. Também o senhor nem sabe como lhe agradeço.
E um novo granizo de beijos ia cair sobre mim; mas desta vez desviei-me a tempo.
— Está gracejando! Que quer dizer isto?
— Ora, faça-se desentendido! Já não se lembra de que me mandou pelo seu criado esta manhã?
Julguei que a moça tinha perdido a cabeça, ou que eu sofria uma mistificação.