Página:Luciola.djvu/127

Wikisource, a biblioteca livre

Nem tu és Margarida, nem eu sou Armando.

— Oh! juro-lhe que não!

Esse juramento teve uma solenidade que me pareceu caricata. Ou porque o percebesse, ou por uma das inexplicáveis transições que lhe eram freqüentes, Lúcia soltou uma gargalhada.

— Realmente este livro não presta. Nem quero acabá-lo. Cometeu-se aí um sacrilégio literário.

As folhas desse primor da escola realista voaram despedaçadas pelas mãos crispadas de Lúcia, que parecia antes estrangular uma víbora, do que rasgar o livro inocente que tivera a infelicidade de irritar-lhe o humor.

Tinha ido levar a Lúcia um bilhete de teatro, que ela aceitou. As nossas relações tinham-se modificado insensivelmente, depois do choque violento que sofreram.

Há de ter visto em nossas matas algumas árvores estreitamente abraçadas pelas delgadas enrediças que lhes cingem o tronco, confundindo na mesma copa as suas folhas e flores. Um dia vem a borrasca que abala com rudeza o arvoredo: não conseguem os ímpetos da ventania quebrar os elos que prendem as duas plantas amigas; porém a enrediça deslizando inclinou para a terra. Volta a bonança: a seiva expande-se com as águas que passaram; o pâmpano tocando o chão começa se lastrar; a haste da árvore desassombrada se lança. No ano seguinte, quando de novo por aí passar, verá o tronco nu e isolado, e o verde dossel bordado de flores que o cobria se estenderá ao longe humilde e rasteiro.