Página:Luciola.djvu/148

Wikisource, a biblioteca livre

riqueza. Darei se me afiançar outra vez que aprova tudo que fiz!

O ajuste foi aceito e concluído. Eram uma perfídia de Lúcia, como verá.

Estive para esquecer o nosso compromisso. Lúcia escapou-se; fitando-me com um olhar de exprobração disse-me:

— E sua promessa!

— Não tenho forças para cumpri-la!

— E eu tenho para ceder-lhe! Pois bem; restituo sua palavra, para não obrigá-lo a faltar a ela. Quer-me assim mesmo morta?

Lúcia deu um passo para mim. Era realmente um corpo morto e uma feição estúpida que ela me oferecia. Repeli com vago terror. Então, serenou, e conseguiu sorrir:

— Amanhã!

Depois com a voz triste e grave acrescentou:

— Será sempre cedo!

Chegou o moleque que tinha ido à sua casa buscar um vestido; poucos instantes depois ela apareceu com um traje fresco e risonho de que tinha, mais que nenhuma mulher, o encantador segredo. Eu embalava-me na rede. Lúcia, depois que cansou de traquinar, fazendo-me cócegas, cobrindo-me o rosto com as franjas e oferecendo-me entre as malhas um beijo que eu não podia colher e se evaporava no ar, foi à estante escolher um livro, e sentou-se na esteira para ouvir-me ler.

O livro que ela trouxe era esse gracioso conto de Bernardin de Saint-Pierre, que todos lemos uma vez aos quinze anos, quando ainda não o sabemos compreender; e outra aos trinta, quando já não o podemos sentir. O que seduzira Lúcia foi o nome de