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na vida tranqüila e sossegada que se devia viver naquele retiro.

— A senhora me faz saudades de minha terra. Lembrei-me de minha casa, e das tardes em que passeava assim por aqueles sítios com minha mãe e minha irmã.

— O senhor tem mãe e irmão! Como deve ser feliz! disse Lúcia com sentimento.

— Quem é que não tem uma irmã! respondi-lhe sorrindo. E minha mãe ainda é muito moca para que eu tivesse a desgraça de a haver perdido.

— Perdi a minha muito cedo e fiquei só no mundo; por isso invejo a felicidade daqueles que têm uma família. Há de ser tão bom a gente sentir-se amada sem interesse!

Depois de uma hora de conversa despedi-me, e voltei sem ter arriscado um gesto ou uma palavra duvidosa.

— Já vai? disse Lúcia vendo-me tomar o chapéu.

— Não posso demorar-me mais tempo. Se a minha visita não lhe aborrece, voltarei outro dia.

— Deu-me tanto prazer! Até amanhã; sim?

E apertou-me a mão cordialmente.

Na rua achei-me tão ridículo com os meus vinte e cinco anos e os meus escrúpulos extravagantes, que estive para voltar. Como podia eu temer um engano, depois do que sabia dessa mulher ?

Encontrei-me à tarde com Sá no Hotel da Europa, onde costumava jantar. Estava ainda muito viva a lembrança do que me sucedera naquela manhã para não aproveitar a ocasião de falar-lhe a respeito, tendo porém o cuidado de ocultar o papel que havia representado na pequena comédia.

— Tens visto a Lúcia? perguntei-lhe.

— Não; há muito tempo que não a encontro.