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O Sr. Couto, fresco e repolhudo, bamboleando-se na cadeira, fazia sortes que as mulheres aplaudiam, e consumia o terceiro copo de água gelada, para abrandar o fogo interno. O Sr. Rochinha, derreado pelo sofá, erguia às vezes a cabeça pesada de sono e torpor para absorver um cálice de conhaque da garrafa que tinha ao lado.

Sá, que se embalançava numa cadeira de palha, saboreando o antegosto das delícias gastronômicas, ergueu-se para receber-me:

— Só esperávamos por ti. Onde te meteste no teatro,

— Estive do lado oposto...

— Cuidei que nos encontrássemos na saída. É meia-noite; vamos cear.

Ao som do tímpano apareceu um criado, que recebeu ordem de servir.

A reunião nada tinha ainda que assustasse os bons costumes. A exceção de alguns gracejos dúbios da galantaria enrugada do Sr. Couto, conversava-se alegremente como no mais aristocrático salão. Havia mesmo um ligeiro tom de cerimônia, que, se não era bastante para acanhar, tirava contudo ao diálogo o colorido vivo e animado que lhe dá a palavra solta.

Entretanto, se a senhora não conhece as odes de Horácio e os Amores de Ovídio, se nunca leu a descrição da festa de Baco e não tem notícia dos mistérios de Adônis ou do rito afrodísio das virgens de Pafos, que em comemoração do nascimento da deusa iam certos dias do ano banhar-se na espuma do mar e oferecer as primícias do seu amor a quem mais cedo as cobiçava; se ignora tudo isto, rasgue estas folhas, ou antes queime-as, para que sua neta, achando as`