Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/106

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torturas domesticas. Coração à larga, minha filha, ganha-se o céu, e não se perde a terra.

LULU - Isso é zanga!

ELISA - Não é zanga, é filosofia. Há de chegar o teu dia, deixa estar. Saberás então quanto vale a ciência do casamento.

LULU - Pois explica, mestra.

ELISA - Não; saberás por ti mesma. Quero, entretanto, instruir-te de uma coisa. Não lhe ouviste falar no direito? É engraçada a história do direito! Todos os poetas concordam em dar às mulheres o nome de anjos. Os outros homens não se atrevem a negar, mas dizem consigo: "Também nós somos anjos!" Nisto há sempre um espelho ao lado, que lhes faz ver que, para anjos faltam-lhes... asas! Asas! asas! a todo o custo. E arranjam-nas; legítimas ou não, pouco importa. Essas asas os levam a jantar fora, a dormir fora, muitas vezes a amar fora. A essas asas chamam enfaticamente: o nosso direito!

LULU - Mas, prima, as nossas asas?

ELISA - As nossas? Bem se vê que és inexperiente. Estuda, estuda, e hás de achá-las.