Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/225

Wikisource, a biblioteca livre

ção?

CUPIDO

Eu sou o amor, tu és correio.

MERCÚRIO

Não, senhor. Sabes o que é andar ao serviço de amor, Sentir junto à beleza a paixão da beleza, O peito sufocado, a fantasia acesa, E as vozes transmitir do amante à sua amada, Como um correio, um eco, um sobrescrito, um nada? Foste um deus como eu fui, como eu, nem mais nem menos. Homens, somos iguais. Um dia, Marte e Vênus, A quem Vulcano armara urna rede, apanhados Nos desmaios do amor, se foram libertados, Se puderam fugir às garras do marido, Foi graças à destreza, ao tino conhecido, Do ligeiro Mercúrio. Ah que serviço aquele! Sem mim quem te quisera, ó Marte, estar na pele! Chega a hora; venceu-se a letra. És meu amigo. Salva-me agora tu, e leva-me contigo.

MARTE

Vem comigo; entrarás na política escura. Proteu há de arranjar-te uma candidatura. Falarei na gazeta aos graves eleitores, E direi quem tu és quem foram teus maiores. Confia e vencerás. Que vitória e que festa! Da tua vida nova a política... é esta: Da rua ao gabinete, e do paco ao tugtirio, Farás o teu papel, o papel de Mer