Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/228

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JÚPITER (cismando)

Ah! Diana!

MERCÚRIO

Cede, ó Jove. Não vês que te pedimos todos? Neste mundo acharás por diferentes modos, Belezas a vencer, vontades a quebrar, —Toda a conjugação do grande verbo amar. Sim, o mundo caminha, o mundo é progressista: Mas não muda uma coisa: é sempre sensualista. Não serás, por formar teu nobre senhorio, Nem cisne ou chuva de ouro, e nem touro bravio. Uma te encanta, e logo a tua voz divina Sem mudar de feições, podes ser... crinolina. De outra soube-te encher o namorado olhar: Usa do teu poder, e manda-lhe um colar. A Costança uma luva, Ermelinda um colete, Adelaide um chapéu, Luísa um bracelete. E assim, sempre curvado à influência do amor, Como outrora, serás Jove namorador!

CUPIDO (batendo-lhe no ombro)

Que pensas, meu avô?

JÚPITER

Escuta-me, Cupido. Este mundo não é tão mau, nem tão perdido, Como dizem alguns. Cuidas que a divindade Não se desonrará passando à humanidade?

CUPIDO

Não me vês?

JÚPITER