Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/249

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D. CATARINA - Não; dá-me conselhos... bons conselhos, meu Luís. Não vos quer mal, não quer... Vamos lá; eu é que sou desatinada. Mas passou. Dizei-nos lá esses versos de que faláveis há pouco. Um epigrama, não é? Há de ser tão bonito como os outros... menos um.

CAMÕES - Um?

D. CATARINA - Sim, o que fizestes a D. Guiomar de Blasfé.

CAMÕES, com desdém. - Que monta? Bem frouxos versos.

D. FRANCISCA - Não tanto; mas eram feitos a D. Guiomar, e os piores versos deste mundo são os que se fazem a outras damas. (A D. Catarina.) Acertei? (A Camões.) Ora, andai, vou deixar-vos; dizei o caso do vosso epigrama, não a mim, que já o sei de cor, porém a ela que ainda não sabe nada... E que foi que vos disse El-rei?

CAMÕES - El-rei viu-me, e dignou-se chamar-me; fitou-me um pouco a sua real vista, e disse com brandura: - «Tomara eu, senhor poeta, que todos os duques vos faltem com galinhas, por que assim nos alegrareis com versos tão chistosos.

D. FRANCISCA - Disse-vos isto? é um grande espírito El-rei!

D. CATARINA, a D. Francisca. -