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Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/48

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CARLOTA - Então sou temível? Confesso que ainda agora o sei. (Uma pausa). Em que cisma?

VALENTIM - Eu?... em nada!

CARLOTA - Interessante colóquio!

VALENTIM - Devo crer que não faço uma figura nobre e séria. Mas não me importa isso! A seu lado eu afronto todos os sarcasmos do mundo. Olhe, eu nem sei o que penso, nem sei o que digo. Ridículo que pareça, sinto-me tão elevado o espírito que chego a supor em mim algum daqueles toques divinos com que a mão dos deuses elevava os mortais e lhes inspirava forças e virtudes fora do comum.

CARLOTA - Sou eu a deusa.

VALENTIM - Deusa, como ninguém sonhara nunca; com a graça de Vênus e a majestade de Juno. Sei eu mesmo defini-la? Posso eu dizer em língua humana o que é esta reunião de atrativos únicos feitos pela mão da natureza como uma prova suprema do seu poder? Dou-me por fraco, certo de que nem pincel nem lira poderão fazer mais do que eu.

CARLOTA - Oh! é de mais! Deus me livre de o tomar por espelho.