Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/79

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CARLOTA - É valente; mas pensando bem não sei de que vale ser valente.

VALENTIM - Oh!

CARLOTA - Palavra que não sei. Essa valentia fora do comum não é dos nossos dias. Às proezas tiveram seu tempo; não me entusiasma essa luta do homem com a fera, que nos aproxima dos tempos bárbaros da humanidade. Compreendo agora a razão por que usa dos perfumes mais ativos; é para disfarçar o cheiro dos filhos do mato, que naturalmente há de ter encontrado mais de uma vez. Faz bem.

VALENTIM - Fera verdadeira é a que V. Excia. me atira com esse riso sarcástico. O que pensa então que possa excitar o entusiasmo?

CARLOTA - Ora, muita coisa! Não o entusiasmo dos heróis de Homero; um entusiasmo mais condigno nos nossos tempos. Não precisa ultrapassar as portas da cidade para ganhar títulos à admiração dos homens.

VALENTIM - V. Excia. acredita que seja uma verdade o aperfeiçoamento moral dos homens na vida das cidades?

CARLOTA - Acredito.