«Sou brando somno ... Sou o primeiro somno...»
E Marános sentia adormecer
O sangue nas suas veias, porque o Outomno,
Falando, derramava o somno leve...
E n'outro tom de voz, continuou:
«Mas já que te encontrei n'esta Montanha
Que entre as Cousas adoras, e onde eu sou
Mais vago e espiritual que em outras terras,
Ao pé de ti, meus passos ouvirás,
Como um sussuro sêco de folhagem
Que ergue o vento do chão; e nos teus olhos
Será presente e viva a minha imagem...»
Disse; e logo da nevoa um outro Vulto
Surgiu: era a Saudade, a Divindade
D'aqueles sitios êrmos, Virgem Nova
Da nova e espiritual Fecundidade,
Que já vivia na alma de Marános:
Assim no seio escuro e mysterioso
Da noite a luz da Lua ... E em torno d'ela,
O chão esteril, duro e pedregoso
Reverdeceu, floriu. E a sua fronte
Toucou-se de oiro e rosas e sorria,
Como a linha saudosa do horisonte
Na anunciação do sol...
E sobre a terra,
Comovido, Marános ajoelhou...