Nasce a noite em que a Virgem concebeu...
Sou a terra onde foi o Paraiso!
E a árvore do peccado no meu sangue
Crava as fundas raizes ... e o sorriso
Da sua flor é luz de perfeição!
Se inocente e ignorante, n'outros tempos,
Vivi da graça eterea do Senhor,
Hoje, expulso, vencido e cabisbaixo,
Vivo do meu saber e minha dôr!
Meu sublime peccado condensou
Em agua as grossas nuvens do Diluvio...
E assim minha ambição alevantou
Da terra ao céu, a Torre de Babel!
Em minha propria carne foi escrito
Esse Poema tragico de Job;
E em meu peito se apoia e toca os astros
A luminosa escada de Jacob!
Sou a Serpente e o Anjo, a aza e a garra!
Fraga que um beijo a arder enterneceu...
Sou Apolo e Jesus; e no meu sangue
Lateja a terra em febre e o azul do céu!
«Outomno, meu amigo! Ó creatura
Do crepusculo vago que em minh'alma,
Em êrmas ondas espectraes murmura...
Sombrio e fundo mar de sentimento!
Avisto-te ao meu lado, todo erguido
Em humana figura ... e já não sei
Se nasceste do Abril anoitecido,
Se da minha chimerica tristeza...