Página:Marános, Teixeira de Pascoaes, 1920.djvu/109

Wikisource, a biblioteca livre
IX


MARÁNOS E OS DEUSES




Um novo sol nascêra, e já Marános
A vista de seus olhos encantada,
Espalhava nos montes que a sentiam...
E aqui e além, a nevoa ainda pousada,
Flócos de espumas de ondas já desfeitas,
Era branda caricia que Deus tinha
Para as fragas que sofrem contrafeitas
Em suas formas asperrimas e agudas.
E o sol claro do outono tambem era
Para as urzes bravias da Montanha,
Um sonho, uma illusão da primavera,
Uma caricia luminosa e doce...
E Marános sentia percorrer-lhe
Os nervos a mais viva e amanhecente
Sensação de prazer ... O sol já alto
Batia-lhe na fronte; e occultamente,
Em seu humus sensível e profundo,
Espirituaes sementes germinavam...
E uma floresta viva de alegria,
Cheia de cantos vivos que soavam
Em frescuras idylicas de sombra,
Ia crescendo e toldando de folhagem

Seu mundo interior com mar e serras,