E Marános ouvindo a voz do vento,
Com tristeza evocava o mar longinquo
Que surgia em seu vago pensamento,
Tempestuoso, intérmino e profundo...
Na sua propria alma, o mar brumoso
Em deliradas ondas ondulava,
Atirando ás estrelas, ancioso,
O beijo amargo e gélido da espuma!
Seu coração marítimo e serrano,
Era o Mar e a Montanha ... Dentro d'ele,
Tomavam, por milagre, aspecto humano
Ondas, outeiros, nuvens, tempestades...
E assim, intimamente, ele sentia
A intimidade cosmica que prende
A onda revolta, em febre de agonia,
Á terrea onda extatica e parada...
Porque a montanha, o mar, as altas nuvens
E tudo o que beijava o seu olhar,
Dentro de si ficava, recordando
Outro mundo girando em outro ar...
Via a ronda infinita das Imagens
Bailar em sua lucida memoria;
Eram rostos amados e paisagens,
Longes de nevoa e pertos de verdura...
Figura esvelta e linda que passou
Por ele, ha muito tempo ... e na sua alma
Um crepusculo eterno derramou
E nos seus olhos pôz eterna lagrima...
Era o scenario vivo do Passado;
O lar da infancia, as árvor's que o cercavam;
O adro da Egreja, ao longe, branqueado,
Página:Marános, Teixeira de Pascoaes, 1920.djvu/124
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