Creatura imortal da tua dôr,
E vivo como tu, mas outra vida...
E choro como tu, mas outras lagrimas...
Este meu corpo mystico e velado,
Repára, é irmão do teu; mas um segredo
Que nunca foi aos homens revelado
Reveste-me de nevoas, faz de mim
A Sombra que fala... Em breve tempo
Tu saberás, Marános, porque vim,
A este monte sósinho...»
E no silencio
Tinha um alto relevo musical
A voz da Aparição que n'estes versos,
É uma voz morta, um echo sepulchral,
Quasi frio silencio doloroso...
E a Voz, sobresaltada, continúa:
«Levanta para mim os olhos tristes...
Entre eles e o meu corpo a luz da Lua
Abre abysmos de sonho e de tristeza.
Eu venho do mysterio que perturba
A noite do teu sêr... E quem sou eu?
A tua propria Alma, a Creatura
Que voluptuosamente concebeu
E deu á luz escura da Penumbra
Teu corpo de animal e de tragedia,
Que treme, que se espanta e se deslumbra
Ante a sua perfeita Creação...
Eu sou a tua Alma aparecida: