Página:Marános, Teixeira de Pascoaes, 1920.djvu/143

Wikisource, a biblioteca livre
139


Da vida natural da sua terra!
Nem podia entendê-los, tão distante
Da alma imortal, da essencia original
Da sua Raça vivem! ... E esta Virgem,
Graça de Deus, encanto espiritual,
É a minha doce amiga e companheira.
Anda atraz dos meus passos e acompanha
Meu coração em todo o seu trabalho...
Ela é a Virgem do Vale e da Montanha.


«Ó grande Cavaleiro que partiste
A lança contra Sombras batalhando!
E fugitivo e pobre, rôto e triste,
Entre chufas, escarneos e sarcasmos,
Fôste a pé pelo mundo que não soube
Consagrar teu Valor e Lealdade!
O sonho que sonhaste, eu vejo-o agora,
Qual phantasma de morta claridade,
Por estranha vingança, a perseguir-te!
Pois sem a luz divina da Loucura,
Que vês de ti? Apenas o esqueleto!
E na terra que vês? Só pedra dura!
Tu és um pobre Deus arrependido,
Amaldiçoando a propria Creação,
N'um hirto e frio gesto resequido
Que chama pelas aguas do Diluvio...
E eu não sou como tu, porque descendo
Do ventre da Mulher e da Paisagem.
Sou creatura humana, mas entendo
O desespero tragico d'um Deus!...»


Fez-se um curto silencio ... E então Marános,