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Ermo, silencio e luar empedernidos,
Mas fortaleza de alma e coração
Da Paisagem sagrada entre as Paisagens!...


E por isso, Marános contemplando
Esse petreficado mar sombrio,
Com terreas ondas que se vão quebrando
Em espumas de flôres e verdura,
Quando os ventos de abril batem as azas
Embriagados de aromas e de sol;
E na emoção da Lua e da penumbra,
Bate as azas a voz do Rouxinol...
Marános contemplando o vasto mar,
D'onde a Virgem nasceu á luz do dia,
Logo sente nos olhos a ondular
Oceanica lagrima profunda,
Talvez mais funda do que o mar, talvez
Mais salgada que o mar, e povoada
De temporaes, de nuvens e de maguas,
E á noite, mais que o mar, toda estrelada!


E assim triste, ele vae com a Saudade
Atravez da Montanha que os adora
E guarda em sua altura e magestade,
Como se fossem filhos da sua alma...
E vão andando e vendo, n'um encanto,
A mansidão viçosa dos planaltos
E os escuros abysmos que parecem
Grandes e empedernidos sobresaltos
Ou desfalecimentos da Montanha...
Dramaticos desmaios quando a Lua

De ignotas sombras e tristezas banha