Do meu corpo lunar... segue meus passos;
Saberás o que nunca imaginaste;
Em mim has de encontrar o que debalde
No mundo a que pertences, procuraste.
Ouve meu canto e guarda-o na memoria,
Se desejas viver a Vida eterna
Em tua fragil vida transitória...
Eis o grande segredo, o meu Segredo.»
E emquanto assim falava, a propria Noite
Abria os labios tristes e sorria...
E cada estrela apenas nos mostrava
Um longinquo vislumbre do seu dia.
E o Silencio divino e a sua amante
A Solidão bemdita, de mãos dadas,
Vagueavam nas trevas em que o Dante
Pôz o idylio de Paulo e de Francesca.
E Marános ouvira aquele Vulto
Que mais lhe recordava um sonho infindo,
Uma chimera vã, embora houvesse
Phisionomia clara e gesto lindo...
Sonho que lhe falava de tão perto,
Em luminosa voz, marulho de agua,
Ou suspiro de brisa n'um deserto,
Passos de nevoa erguida e caminhante...
E como quem se encontra, de improviso,
Por oculta tristeza dominado,
Que nem dá mesmo tempo a que um sorriso
Se apague em nosso rosto escurecendo-o,
Marános exclamou: