Milagre ou maravilha!...
Que segredo?
Ou que sombra da terra ou luz do céu?
Que sonho, que delirio te persegue?
Que tragico phantasma te empeceu?
Ou do teu proprio espirito possesso,
Andas errante e doido, sem achar
Algum Deus que te arranque das entranhas
Essa Sombra que turva o teu olhar,
Esse intimo Demonio que em ti vive?»
«Estranho é o que me dizes! Quem és tu?
Lhe perguntou Marános. Logo vi
Que eras um puro engano dos meus olhos...
Mas tambem que me importa, se eu vivi
Essa ilusão? ... Se tudo quanto vivo
Se converte em verdade e realidade;
Fica a ser d'este mundo como eu sou...»
E a Pastôra sorrindo (era a Bondade
Em onda luminosa á flôr d'uns labios)
Mais claramente agora interpretava
As palavras confusas de Marános,
Que a loucura, esse espirito, animava...
E assim lhe disse:
«Ó vaga creatura,
Estranho caminhante da tristeza,
Peregrino que vens da noite escura,
Atráe-me a tua voz enlouquecida!
Tu fallas ... e teu verbo luminoso