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IV


MARÁNOS E A PAISAGEM




E Marános, emquanto aquela imagem
De novo, se perdia, dirigindo-se
Pelo rastro de luz que na passagem
Seus pés de nevoa alada iam deixando,
Disse, com voz saudosa:
 «Ó tu que ouviste
Esta elegia íntima que fórma
A essência do meu sêr, e descobriste,
Pela aridez ardente dos meus labios,
A natureza, sim, de minha sêde!
Tu, que és meu corpo frágil e vivente,
Prolongando-se em mystica ternura
Além do Espaço, e milagrosamente,
Já sentindo e vivendo uma outra vida,
Seguirei teu caminho que nos leva
Á Montanha sonhada e prometida
Que se ergue altiva e triste no horizonte;
E que, vista d'aqui, d'este êrmo outeiro,
Com seus êrmos planaltos, na amplidão,
Tocados de infinito e nevoeiro,
É a Montanha da lua e do silencio...»


E já tomára o Sol a primitiva

Claridade; a Paisagem regressára