Logar de soledade e Aparições,
Onde as almas errantes pelos céus,
Baixam na sombra lactea da Lua.
E foi descendo a religiosa encosta
Vestida de pinheiros e ajoelhada
Sobre um vale, onde a côr, em verdes ondas,
Murmura ... e é luz caida e condensada...
E ali, n'aquele vale, a dôr christã
Dos êrmos, tristes pinheiraes sombrios,
Se casa, sob a ardente luz pagã,
Com a alegria fértil da campina...
E unidas e casadas, n'um abraço,
Sobem depois ás mysticas alturas
Dos pincaros da Serra que, no espaço,
Erguem seu vôo extático e inefavel,
Já libertos da dôr e da alegria...
Fórmas espirituaes de rocha e neve,
Na insensibilidade eterna e fria
Do Sêr perfeito e livre, isento e virgem!
Ó vale da Harmonia florescente,
Onde o sagrado Tamega, sonhando,
Bate as azas que turvam as estrelas
E sobre as arvores tristes vae passando...
E a humida caricia do seu vôo
As desmaia de amor; e desmaiadas,
Nos braços envolventes da neblina,
Lembram vagas mulheres desgrenhadas...
Ó vale do Crepusculo, onde o Sol
Beija a mystica sombra dos outeiros!