E o Rio deslisava, n'um murmurio
De prece: era um suspiro, era um rumor
De sonho: era um desejo que se espraia...
E seus olhos olhavam a Paisagem
De mysticos declives de pinhaes;
E campinas de verde e alegre imagem
E o sol caindo em bátegas de côr!
E os pássaros voando, como sonhos
Das arvores ... sonhos belos e felizes
Que lhes pousam, cantando, sobre os ramos
Que são celestes, íntimas raizes!
E as cousas que seus olhos contemplavam,
Tambem as ia vendo intimamente.
A cada sêr externo corresponde
Intimo sêr chimerico e vivente...
É a Natureza, sim, no seu perpetuo
Desdobramento animico e profundo,
Criando um novo Céu, além do céu,
Criando um novo Mundo, além do mundo!
Marános era a selva comovida
Do dramatico Idylio universal,
Onde as trevas e a luz, a morte e a vida,
Celebram seus amores de eternidade!
Ele era a Egreja humana e caminhante,
Onde a imagem de Christo e as suas dôres
Eram feitas de nuvens e arvoredos,
De avesinhas, de estrelas e de flôres!
Sua cruz era uma arvore em abril;
Suas chagas sangrentas eram rosas;