Filha das aguas com as aguas vae
Na cerração phantastica da bruma!
Assim eu vou também, espuma fragil,
N'um alteroso mar de sentimento...
Qual o destino meu? Quem me responde?
Que diz á noite negra a voz do vento?
Onde me levas tu, meu coração?...
E lá vaes! e lá vaes arrebatado
No dôrso d'esse mar! E fico só!
E vejo então meu corpo—esse punhado
De alegria, de terra e de tristeza!
E como compreender-te, pobre corpo,
A tua ignota vida inconfundivel,
Se és feito de invisiveis elementos,
Embora ao nosso olhar sejas visivel?
És pêso que um milagre quiz compôr
De imponderaveis cousas! Fórma viva
Feita do que é informe e não tem côr...
És phantasma fugindo e aparecendo!
Alma e corpo, que sois? Que és tu tambem
Ó Voz que os interrogas? Quem sou eu?...
Sombra da terra, fala! Ó tu que és feita
Talvez de toda a luz que tem o céu!...»
E estas palavras doidas, sem sentido,
Que seus labios profeticos disseram,
De echo em echo, arrastadas pelos vales,
N'uma poeira de som se desfizeram.
Poeira que sobe ... e é nuvem de silencio...
Nuvem que mysteriosa e fria aragem,
Perpassando, condensa: e é voz humana,
Canção, marulho de agua e de folhagem...