De verde se vestiu, só de lembrar-se
Da alegria de quando foi donzela
E na agua viu seu rosto retratar-se!
Olha: repára tu n'este rochedo;
Não vês signaes de dôr? Não vês n'aquele
Outeiro uma saudade que é um segredo
Da propria terra e pedra que o formaram?
Bem antes d'este mundo houve outro mundo
Que foi sombra, phantasma, espectro errante...
E esse espectro, esse fumo condensado
Sob os teus pés, é o mundo caminhante!
E as estrelas e os astros denegridos
São duros pontos densos do Infinito,
Grandes blócos de céu empedernidos,
No mesmo céu boiando e gravitando...
São principios e fins de Encarnações
Do imenso Verbo azul, almas viventes!
Agua arrastada pela propria agua,
Como os blócos de gêlo nas correntes...
«Surgira o mundo; isto é, um grande espaço
De céu em pura estrela se abrasou...
E a Estrela viu a Noite; e n'um abraço,
Começaram a andar pelo Infinito...
Deixou de alumiar e de aquecer,
Presa d'aquele doido amor soturno,
Para ser aquecida e para vêr;
Deixou de fecundar, fez-se fecunda.
E o Frio disse então ao Fogo:—apága-te!
E o mesmo disse á Luz a Noite escura.
E ao coração do mundo desce o fogo,