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VII


MARÁNOS E A SAUDADE




Marános acordando, e em alta voz,
Saudando o sol, a lua, a sombra amada
De Eleonor que vivia além do sol
E além da lua, em sonho alevantada,
Continuou caminhando, a meditar,
Atravez dos planaltos...
 E os seus olhos
Sentiam-se acordar e madrugar
Para outra luz mais pura e verdadeira.
Ouvira a voz da Serra e interpretava
Esta vida melhor, que, em volta d'ele,
Mais profunda e mais alta se tornava
E mais digna portanto de viver-se.
Cada vez mais o mundo—cretura
Era o mundo—creador; o sêr humano
Um sêr divino; e a terra ingrata e dura
Um céu verde, tangível e fraterno.
E tornára-se humilde, pois a Vida
Não encarnara n'ele a derradeira
Forma de perfeição; e, redimida
Em sonho já divino e transcendente,
Para além do seu corpo se prolonga,
Criando o eterno Reino Espiritual...

E deslumbrado viu que a Natureza