Meu coração e as pedras que ha nos montes...
E as árvores do vale que a emoção
Reverdece melhor que a luz do sol...
Viagem da Lua Nova e da canção
Dos rouxinoes na sombra dos salgueiros!
Virgem das altas serras coroadas
De neve e de silencio! Ó doce Virgem
Da solidão pagã das madrugadas,
Quando a Tristeza e a Noite ainda vão perto...
Ó dolorosa Virgem da distancia!
Ó Senhora do Longe e da Aventura,
Na solitaria Ermida sobre as rochas
Que dominam o mar e a noite escura!
És a Virgem Saudade, a Dôr que sofre,
Ai d'ela, ao mesmo tempo que é sofrida;
Beijou-te n'uma face a propria Morte,
N'outra face beijou-te a propria Vida!
És o Estigma da Raça, o seu perfeito
E limpido Signal de santidade!
Seu destino e futuro em ti existem,
Pois participas, sim, da Divindade!
Ó Virgem Lusitana! Ó Escolhida
Do Mensageiro alado que o Senhor
Já te enviou dos Céus; e, humilde e triste,
Disseste: sim! corada de pudôr.
Ó Saudade! Ó Saudade! Ó Virgem Mãe,
Que sobre a terra santa portugueza,
Conceberás, isenta de pecado,
O Christo da Esperança e da Beleza!
Ó nova Divindade, eu quero erguer-te,
No mais alto da Serra, um belo altar
Página:Marános, Teixeira de Pascoaes, 1920.djvu/94
Aspeto
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