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tomada de um tremendo e ancioso gesto de pavôr foi desabafar o seu desespero junto de um medico que dirigia uma casa de saude, um internato patologico.

Sentia lucidas as faculdades da razão. Mas o desespero mantinha-a n'um delirio acidental, um desvairamento febril mixto de angustia e terror produzido pelo receio da loucura. No auge d'esse delirio, anciosa por um repouso, aflita, querendo fugir á tortura do presidio onde já não podia sofrer mais, rojou-se aos pés do medico. Suplicou, implorou n'uma ancia de soluços e de lagrimas, que lhe désse abrigo, refugio, tratamento, n'aquela casa de saude. Imaginára que n'esse lugubre reco- lhimento da maior desgraça humana existiam pavilhões separados onde se faziam curas de repouso. Na sua suplica confusa, entrecortada de desesperos, de contracções extremas, de intensas agonias de alma e de espirito, nem sabia o que podia, o que queria. Queria estar junto de um medico que a compreendesse e atenuasse o seu estado de hiperestesia.

Queria estar longe, bem longe do ambiente do seu imerecido suplicio.

O medico, bom e sensivel, comovido com essa tortura extrema, cedeu aos seus