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Página:Maria Feio - Doida Não (1920).pdf/47

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pessoas de representação social e que os distintos clinicos se recusariam a classificar por escrupulos varios.

Não ha demencia nem aviltamento degenerativo nestal paixão. Ha uma fusão de almas que se chama atracção, uma singular atracção que se chama amor. Quais são as verdadeiras raizes? Quais serão os frutos? Porque é que uma mulher de espirito e fascinação rodeada de tantos homens de agrado, se agradou especialmente de um menos brilhante? Porque é que não tendo feito escandalos de adulterio se reservou para os consumar em tais condições? Porque estava destinada para isto. Ha quanto tempo duraria a incubação deste amor? Decerto vivia muito antes de encontrar o magnete onde fixar-se. Chegou a fase da transformação. A crisalida fez-se borboleta. E a borboleta voou num adejar de ardente fantasia.

Qual é a conclusão final?

Uma paixão envolvendo um misterio. Merece a classificação de crime? Sim e não. Sim, porque vai de encontro á moral, aos deveres da mulher casada, e ás normas da virtude e do pudor que são o mais belo cruamento da mulher. E não, porque a origem dessa paixão tem a sua causa em sentimentos reciprocamente elevados. A mulher foi amada por ser compadecida e tambem porque dela se compadeceram. É afinal um holocausto, uma pira de idolatria em que arde a chama de um amor invulgar. É uma flôr de bondade crestada nas labaredas de um incendio. Que valem afinal comentarios perante a fatalidade das coisas que teem o seu destino traçado?

Mas o que é verdade em meio de uma teia de mentira, é que a alma da mulher que assim ama, não é uma alma