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Página:Maria Feio - Doida Não (1920).pdf/59

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dêsse sentimento que vai alêm dos sentidos cristalisar na divinisação do ideal para abranger o culto da humanidade.

Vive nesse amor a dôr simbólica de Julieta e Rumeu, de Dante e Beatriz da Hero e Leandro da Mitologia? Existe o amôr que é o ritmo da vida, a melodia do coração, o ardor vivaz de paixões que absorvem e alentam, que enebriam e endoidecem? E' uma transição, é um laço intermediário que enleia almas, corpos; espiritos e corações para se fundirem em Luz de resgate?

Homem e mulher somem-se na bruma da vida material deixando em fóco só os símbolos. Para que julgá-la, para que condená-la, esta paixão, se ela é engendrada de sentimento, pela ideia que se liberta dos pantanos terrestres para inscrever no céu luminoso do ideal estas divinas e salvadoras palavras:

Bondade e Justiça

Já passara a hora da visita. Tinha que retirar-me.

― É muito visitado? ― perguntei ao Manuel.

― Por ninguem, minha senhora. Não tenho nesta terra pessoas conhecidas...

― Em que passa o tempo?

― Trabalhando. O trabalho é para mim lenitivo e recreio.

― Gosta de lêr?

― Muito, sobretudo história, Quanto estimaria poder têr aqui alguns livros bons!...

Levantei-me para me retirar.

Ao transpôr a grade negra do cárcere, voltei-me para o Manuel com piedade humanista.

De pé, triste, em atitude de respeito e de sofrimento, havia no seu porte uma linha de correcção que impressionava.